quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Fundo Soberano, CPMF e FHC

Posso estar enganado, mas até agora não encontrei boas justificativas para a criação de um fundo soberano no Brasil. Este fundo, na verdade, buscaria aplicar parte das reservas internacionais do país (atualmente em torno de US$ 176 Bi) em investimentos de maior rentabilidade, e, portanto, de maior risco, como o financiamento de projetos de empresas brasileiras. A princípio, o Tesouro compraria US$ 10 bilhões para a formação do fundo, o que também teria impacto na cotação do dólar. Assim, a idéia parece ter claramente a intenção de atuar no mercado de câmbio, impedindo uma queda maior da moeda norte-americana em relação ao real.

Não que eu seja contra a valorização do dólar perante ao real, pelo contrário, mas acredito que a medida tem mais custos do que benefícios. Primeiramente, como vivemos num cenário de déficit nominal, qualquer gasto marginal do Tesouro é feito com a emissão de uma dívida cara, referenciada pela taxa Selic. Em segundo lugar, as grandes empresas brasileira têm total acesso ao mercado de crédito internacional, inclusive em condições melhores que o próprio Tesouro. Em terceiro, correria-se o risco de favorecimento a algumas empresas em especial. Desta forma, ao enxergar a intervenção cambial como única justificativa para a "empreitada", acredito que existam outras alternativas melhores, como, por exemplo, a redução do diferencial de juros.

* *

Outro assunto delicado que nos ronda esses dias é a questão da prorrogação da CPMF, imposto que, pra quem não sabe, arrecadou R$ 32 bi no ano passado. O editorial da Folha de hoje pontua sobre o fato com clareza. Diz que, nos últimos dias, o governo "trocou a soberba de quem tratava a vitória como favas contadas pela insegurança" e agora demonstra atitudes de chantagem e intimidação. Na realidade, porém, o "fim da CPMF não seria uma catástrofe nem obrigaria o governo a administrar melhor as suas despesas e receitas".

Ou seja, na verdade, independentemente do resultado no Senado, infelizmente o desenrolar da história não vai levar o governo a controlar melhor os seus gastos, procurando maior eficiência e um equilíbrio fiscal de longo prazo com menos tributos para os brasileiros.

* *

Por fim, antes tarde do que nunca. Me perdoem o atraso, mas não poderia deixar passar em branco a infeliz declaração do nosso eterno FFHH. Durante o Congresso do PSDB, na semana passada, o ex-presidente disparou contra Lula:

"Aqui [no PSDB] há acadêmicos, e não temos vergonha disso. [...] Faremos o possível e o impossível para que saibam falar bem a nossa língua. É por isso que em Minas Gerais o ensino passou para nove anos, e não quatro. Queremos brasileiros melhor educados, e não liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria', disse.

Menos, né Fernandinho!

10 comentários:

Economista T disse...

É lógico que a compra de dólares também tem o mesmo custo fiscal, mas enfim... a questão é procurar quais são as vantagens no fundo soberano, o que pra mim não há..... Para opiniões a favor, consultar o blog do Nassif, para opiniões contrárias, verificar as colunas de Loyola, ontem na Folha, ou Schwartsman, hoje na Folha.

Anônimo disse...

Você citou até o professor de deus????? ehehehehehe

Anônimo disse...

Concordo que tem o custo fiscal...
Mas eu acho que é capaz de ter uma ideia por trás que é a da diversificacao. Pensa só...o Brasil exporta X e importa Y. O preco de X relativo a Y tá alto. Grosso modo (momento Marcelo Godoy), assim, há superavit na conta corrente, entram mais dólares no país do que saem e com isso formam-se as reservas (variacao das reservas=conta corrente - conta de capital; isso é necessário para fazer o BP fechar). Mas se tais precos relativos mudarem inverte-se a situacao, o pais comeca a ter deficits de conta corrente e o BC pode comecar a perder reservas. Um bom hedge contra isso é investir parte das reservas em papéis de empresas produtoras de Y, porque quando tal preco relativo mudar, pelo menos o valor das reservas sobe, permitindo o pais financiar um eventual deficit em conta corrente por mais tempo sem ter uma crise de liquidez. Por exemplo, se um pais qq exporta petroleo seria interessante que ele investisse parte de suas reservas em papeis da industria automobilistica. Pq? Pq quando o preco do petroleo cair subirá o preco das acoes das produtoras de carros e com isso o valor das reservas do pais aumentara e permitira que o pais conviva com precos mais baixos de suas exportacoes por mais tempo sem sofrer uma crise de liquidez (e/ou ajustar suas importacoes - a a demanda interna -para baixo). Agora, eu nao sei dos argumentos contrarios. E no caso brasileiro isso tem um custo fiscal.

Economista T disse...

Grande inglês...

O que eu acho é que é muito barulho pra pouca coisa. Eu até concordo com o que vc falou: aproveita-se um momento de bonança pra fazer a "poupança" pro momento em que o ciclo virar. Só que uma aplicação de 10 bi de hedge com papéis de uma montadora, por exemplo, poderia dar 20% a.a. em um momento bom para esse setor. E então o ganho líquido seria de 2 bi. No entanto, esse 2 bi em relação as reservas atuais não representariam muita coisa, até mesmo em termos de um eventual financiamento de déficit em CC.

Eu acho é que essa medida busca na verdade uma intervenção no câmbio. Aí é até complicado falar, mas uma maneira mais eficiente de fazer isso passa pelo diferencial de juros. Se vc pegar o total de dólares que entra no país, verá que uma parte pequena que é oriunda das transações correntes; grande parte vem da conta de capital. Aí dentro vc tem várias formas de investimento, mas acho que os juros tem um peso enorme (vou checar isso melhor).

E aí quanto ao fundo soberano é isso; não consegui ver uma vantagem muito grande. sacou? Mas escreva mais aí, eu sou bastante flexível quanto as minha opinioes. Aliás, que dia vc vai escrever alguma coisa aqui pra mim??? Abraços!

Anônimo disse...

Pois é....mto barulho por nada....
Se bem q nao...se trabalhasse no BC e gerisse parte das reservas acharia legal poder comprar algo diferente de um T-Bill. Tornaria o trabalho mais interessante! hehe
Quanto ao fato de ser uma medida cambial. Verdade. Mas na minha opiniao é mais uma medida cambial inefetiva. Pq como vc disse, 10 bi nao é nada. To longe e nao sei, mas quando sai do Brasil o BC tava comprando US$ 500 mi de dolar por dia!
Agora, nao sei te dizer se daqui para frente uma simples reducao do diferencial de juros fará o dolar parar de perder valor perante o real. Talvez sim. O que eu acho, no entanto, é que a brutal valorizacao que ocorreu nos ultimos anos só seria contida por um controle de capitais. Nem mesmo juros mais baixos aguentariam.
Ate pq os juros nao seriam mto mais baixos pq tem o problema das metas de inflacao...e a liquidez mundial continuaria sendo alta (o caso da crise da Asia, em 1998, mostra que nem mesmo com juros baixos freia-se fluxos de capitais altissimos em momentos de elevada liquidez, tem um texto do Gabriel Palma sobre isso num livro do Chang)
Nesse caso, torna-se ponto de discussao se existe independencia de pol. monetaria sob uma combinacao de metas de inflacao + livre mobilidade de capitais.
Pq ou o BC aceitava inflacao pulando e cambio menos valorizado do que hoje (mas mesmo assim + valorizado que em 2003) ou aceitaria menos inflacao e cambio super valorizado (o que ocorreu). Uma coisa interessante sobre controle de capitais é que acho que além de todas as possibilidades de ganhos de arbitragem que existiam em 2003, 2004 e 2005 a isencao capitais estrangeiros de pagarem IR instituida senao me engano em 2003 contribuiu para a valorizacao do real.
Seria legal estimar quanto dinheiro extra entrou por isso no país e qual impacto no cambio.
Sobre o cambio, o Meirelles (anta) disse semana passada que está tranquilo com a possibilidade de deficit em conta corrente (isso é verdade?) a partir de 2008! Cinquenta anos de evidencia e um punhado de crises cambiais nao fizeram o cara aprender algo? Osso!

Economista T disse...

Sobre a declaração do Meirelles, é verdade sim: "O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reconheceu ontem que o país deve conviver com um possível déficit no balanço de pagamentos no futuro. Ele não precisou, no entanto, quando o desequilíbrio começará a ocorrer.

Para Meirelles, o déficit não será um problema nem afetará a economia do país, que vive um bom momento. 'É normal que, na evolução do balanço de pagamentos, o Brasil possa ter um pequeno déficit em conta corrente. Isso não envolve maiores problemas devido ao dinamismo atual da economia brasileira. Temos um volume de reservas significativo e adotamos um regime de câmbio flutuante, que ajusta nossas cotações da moeda em razão das expectativas de fluxo.'"

Q vc acha???? eheheheheh


Na verdade eu sou obrigado a concordar com vc em alguns aspectos. O problema de diminuir os juros é que aí a inflação vai saindo da meta (e tinha gente querendo abaixa-lá pra 4 ou 3,5 em 2009 eheheheh). Além do mais, a redução do diferencial pode não ter o impacto esperado, apesar de dar uma ajuda. Eu vou pensar mais um pouco nisso, aqui já são 2 da manhã e eu to chegando agora. DEpois te falo demorou? abraço

Anônimo disse...

To gradando do dialogo aqui! Vc tem q resolver quando e como vou entrar na equipe desse blog!! hehe
Mas aki, esse layout tá com mto azul p um blog q se diz atleticano! Adquiriu um minimo de senso e virou cruzeirense? hehe
Abs

Economista T disse...

eu tenho q resolver nada!!! vc q tem q resolver!!! escreve alguma coisa aí powww!!!!
enfim, acabei de acordar, mais tarde continuamos a discussao ehehehe
abrassss

Pedro Ivo Martins Brandão disse...

Discussão de alto nível, ein Tina (= Cabanoco).

Como não sou economista, mas apenas um generalista de tudo (lê-se não sei nada de nada), não cou comentar a parte da economia.

Isso é inglês pra mim (desculpa a menção, viu Inglês). Sobre o Fernandinho, simplesmente lamentável.

Anônimo disse...

Pra que sirva de registro, nem todos os economistas tem paciência/conhecimento/ânimo e... já mencionei paciência? Pra discutir teoria econômica. Embora economista, não faço jus ao título no que diz respeito às calorosas e sofisticadas discussões tão presentes em nosso círculo de amigos, mas os que o fazem tem total apoio (mesmo não contando com minha audiência). Quem sabe eu não aprendo algo?
Então Ivo, junto-me a você e me limito ao lamento pelos tristes tormentos do finado FH...