segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Educação

Vendo televisão esses dias, assisti a uma denúncia, como tantas outras, a respeito de irregularidades na venda de livros didáticos para a rede pública de ensino. O repórter da emissora se passou por um funcionário público de alguma prefeitura e negociou a venda em sua sala com os donos da editora, sendo tudo filmado por uma câmera escondida. A propina, que normalmente ia para o partido do prefeito (em cash!), conforme os próprios diretores disseram abertamente na gravação, era de 10%. E, pelo que falaram na reportagem, várias prefeituras do país adotavam os livros desta editora em suas escolas. Só mais uma coisa: um especialista em educação, pesquisador da USP, chamava atenção para a baixa qualidade dos livros, chegando a apresentar erros grosseiros tanto de conteúdo como também de português.

O caderno Cotidiano da Folha da semana passada estampou em sua capa: Brasil é reprovado, de novo, em matemática e leitura. A matéria era a respeito do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), cujos resultados de 2006 colocaram o Brasil entre as piores notas dos 57 países que participaram das provas. O Brasil também teve uma das maiores diferenças entre notas de escolas públicas e privadas, mas isso não significou qualidade das escolas privadas: tomadas em isolado, também apresentavam notas muito baixas.

Poderíamos falar mais sobre muita coisa, mas o espaço é curto (!). Na verdade, o que interessa é que a educação continua péssima no nosso país, comprometendo e muito o desenvolvimento da nação. Fica até repetitivo, mas enquanto o governo não resolver essa situação não será possível contar com um crescimento econômico sustentado de longo prazo. A melhora da democracia e a oferta cada vez maior de mão de obra qualificada, frutos de uma educação de qualidade, parecem ser condições indispensáveis ao nosso desenvolvimento.

Bom, falar assim fica parecendo até fácil. Pois não defendo um corte de gastos públicos? Ou pelo menos uma diminuição dos gastos em relação ao PIB? Com certeza, para melhorar o ensino, acredito que deve-se estimular professores e educadores, com aumento de salário e algum tipo de incentivo por desempenho. Além disso, uma melhora na infra-estrutura das escolas e algum tipo de acompanhamento do aluno em ambientes extra-classe são necessários. O problema obviamente passa por outras áreas, como saúde e violência, mas melhoras na educação já podem causar significativos ganhos marginais.

Então como fechar a conta? Realmente aí devem ser feitas algumas "mágicas". Sinceramente, acredito que haja ainda muito desperdício, muitos gastos ineficientes por parte do governo, incluindo na própria educação. Mas não duvido de que uma administração pública mais séria e compromissada pode fazer com que estes "investimentos" caibam no nível atual de gastos/PIB. Sobretudo porque os gastos podem subir em termos absolutos em quanto o PIB também estiver crescendo. Assim, o que não se pode é adiar cada vez mais o início da solução de um problema que ainda durará por algumas gerações. (PS: posteriormente eu comento sobre o PAC da educação!)

Um comentário:

Pedro Ivo Martins Brandão disse...

O Ipea lançou um estudo esses dias dizendo que o investimento em educação no país, que hoje é de 4,3% do PIB, deveria dobrar para a qualidade melhorar.

Ou seja, não adianta apenas colocar os meninos na escola e fazer ele percorrer as séries do ensino fundamental se no fim das contas ele só estava lá para comer o lanche. Sai da escola formado e não consegue entender nada que lê.

Mas vamos tomar cuidado com essas reportagens sobre livros didáticos. É um mercado em que atuam grandes grupos de comunicação, também donos de TVs, jornais etc. Lembra daquela história da Veja falando mal de uma editora para ganhar mercado com Ática e Scipione, que também são do grupo Abril?